Vida vai, vida vem e eu continuo na casa da Rica. Como só tinha pago um mês de curso de inglês e hospedagem quando saí do Brasil, deveria deixar a host house quando a próxima estudante chegasse. Acontece que a Rica me deixou ficar. Pôs a filha a dividir o quarto com ela e me deu o quarto da filha (a Lisa, aquela que não descobri se não gosta de mim ou se não gosta de gente, mas que agora tenho certeza que não gosta de mim em virtude do acontecido). Só sei que para mim foi a melhor das opções. Continuei em Sea Point, meu cantinho preferido em C.T., num lugar seguro e onde posso cozinhar e lavar em casa a minha roupa – o que é bem importante quando se mora fora.
Com a vinda da nova estudante e posteriormente da irmã dela, já que as duas preferiram ficar na mesma casa, éramos cinco mulheres. Foi uma época bem boa. Um mês em que eu tive ótimas companhias para passear, almoçar, rachar o taxi e conversar depois da balada, quando eu normalmente voltava querendo compartilhar as minhas impressões em português. A Nahyana e a Morgana se tornaram minhas grandes amigas e fizeram especial a minha estadia em C.T. Quando elas foram embora demos para a Rica um cartão de thank you e um porta retrato com a foto de nós cinco. Ambos ela exibe orgulhosa no aparador da sala de jantar.
O gatinho de três patas ainda tenta ser meu amigo. O destino me deu a chance de conviver com um bicho de estimação para ver se eu perco esse medo ridículo, mas confesso que não estou muito interessada, embora ele seja realmente um amor de criatura. Toda vez que vou para o sofá com meu prato de Sucrilhos ele vem sentar do meu lado. Como vou me encolhendo, ele dá meia-volta e sai fora. Um dia sentei no braço do sofá, perto dele, porque estava disposta a uma aproximação, e ele abanou com a patinha da frente, fazendo sinal de “vem”, me pedindo para chegar mais perto. Naquele dia eu desconfiei que ele lê pensamento. Ele decifra o nosso humor e sabe quando se aproximar sem ser inconveniente.
Outro dia eu estava sentada na cama e ele apareceu no meu quarto. Queria subir na cama, junto comigo. Eu olhei para ele e pensei, nãoooo, gatinho, aqui não, então ele subiu na ponta oposta da cama e lá ficou encolhido. Como viu que eu não dava bola, virou a cara para a parede. Eu queria fazer alguma coisa para ser legal com ele, então liguei o computador e botei Tom Jobim para ele escutar. Com certeza ele teria preferido que eu fizesse um carinho, mas este seria um passo muito grande para eu dar naquele momento. Ele ouviu de olhinhos fechados.
Engraçado foi no dia da viagem para Jeffrey’s Bay. Abri a porta de casa e coloquei minhas malas no corredor. Em seguida vim buscar a bolsa no quarto e, de repente, quando olho, o gato está saindo pela porta. Comecei a me desesperar, porque eu jamais teria coragem de pegá-lo no colo e trazê-lo de volta, então quase chorei imaginando ele fugindo, eu perdendo a viagem e depois tendo que explicar para a Rica que deixei o gato dela escapar. Comecei a chamar, “please, come on little boy, come back, pleaseeeeeee” - e ele não me dava a menor bola. Deu uma voltinha no corredor, voltou e sentou em frente à porta. A esta altura eu já tinha tocado a campainha do vizinho para pedir ajuda, o próximo passo seria chamar o bombeiro ou a polícia, sei lá. Nisso resolvi prestar atenção no que ele estava fazendo. Ele estava sorrindo. Contando ninguém acredita, mas ele sentou em frente à porta e enquanto um vento forte batia na cara, ele mexia a cabeça bem devagar e sorria, como se dissesse: “hummmm, que delícia, que cheiro de liberdade”. Ele sorria sem mostrar os dentes, só fechava os olhos e franzia a carinha. Comecei a compreender a importância daquilo para ele. Posso não ter intimidade nenhuma com animais, mas acabei descobrindo que a minha facilidade para lidar com crianças pode ser útil no convívio com animais inteligentes. Então o deixei a vontade e fiquei mais a vontade também, até que ele deu meia-volta, entrou em casa sozinho e voltou para o sofá.
Com a vinda da nova estudante e posteriormente da irmã dela, já que as duas preferiram ficar na mesma casa, éramos cinco mulheres. Foi uma época bem boa. Um mês em que eu tive ótimas companhias para passear, almoçar, rachar o taxi e conversar depois da balada, quando eu normalmente voltava querendo compartilhar as minhas impressões em português. A Nahyana e a Morgana se tornaram minhas grandes amigas e fizeram especial a minha estadia em C.T. Quando elas foram embora demos para a Rica um cartão de thank you e um porta retrato com a foto de nós cinco. Ambos ela exibe orgulhosa no aparador da sala de jantar.
O gatinho de três patas ainda tenta ser meu amigo. O destino me deu a chance de conviver com um bicho de estimação para ver se eu perco esse medo ridículo, mas confesso que não estou muito interessada, embora ele seja realmente um amor de criatura. Toda vez que vou para o sofá com meu prato de Sucrilhos ele vem sentar do meu lado. Como vou me encolhendo, ele dá meia-volta e sai fora. Um dia sentei no braço do sofá, perto dele, porque estava disposta a uma aproximação, e ele abanou com a patinha da frente, fazendo sinal de “vem”, me pedindo para chegar mais perto. Naquele dia eu desconfiei que ele lê pensamento. Ele decifra o nosso humor e sabe quando se aproximar sem ser inconveniente.
Outro dia eu estava sentada na cama e ele apareceu no meu quarto. Queria subir na cama, junto comigo. Eu olhei para ele e pensei, nãoooo, gatinho, aqui não, então ele subiu na ponta oposta da cama e lá ficou encolhido. Como viu que eu não dava bola, virou a cara para a parede. Eu queria fazer alguma coisa para ser legal com ele, então liguei o computador e botei Tom Jobim para ele escutar. Com certeza ele teria preferido que eu fizesse um carinho, mas este seria um passo muito grande para eu dar naquele momento. Ele ouviu de olhinhos fechados.
Engraçado foi no dia da viagem para Jeffrey’s Bay. Abri a porta de casa e coloquei minhas malas no corredor. Em seguida vim buscar a bolsa no quarto e, de repente, quando olho, o gato está saindo pela porta. Comecei a me desesperar, porque eu jamais teria coragem de pegá-lo no colo e trazê-lo de volta, então quase chorei imaginando ele fugindo, eu perdendo a viagem e depois tendo que explicar para a Rica que deixei o gato dela escapar. Comecei a chamar, “please, come on little boy, come back, pleaseeeeeee” - e ele não me dava a menor bola. Deu uma voltinha no corredor, voltou e sentou em frente à porta. A esta altura eu já tinha tocado a campainha do vizinho para pedir ajuda, o próximo passo seria chamar o bombeiro ou a polícia, sei lá. Nisso resolvi prestar atenção no que ele estava fazendo. Ele estava sorrindo. Contando ninguém acredita, mas ele sentou em frente à porta e enquanto um vento forte batia na cara, ele mexia a cabeça bem devagar e sorria, como se dissesse: “hummmm, que delícia, que cheiro de liberdade”. Ele sorria sem mostrar os dentes, só fechava os olhos e franzia a carinha. Comecei a compreender a importância daquilo para ele. Posso não ter intimidade nenhuma com animais, mas acabei descobrindo que a minha facilidade para lidar com crianças pode ser útil no convívio com animais inteligentes. Então o deixei a vontade e fiquei mais a vontade também, até que ele deu meia-volta, entrou em casa sozinho e voltou para o sofá.
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