
Passei um dia completamente sozinha em Cape Town e posso dizer que foi o melhor dia desde que cheguei. Os brasileiros do meu grupo foram todos embora, incluindo meus amigos-irmãos, Henrique e Rapha, então aproveitei para curtir a praia do jeito que eu mais gosto, lendo um bom livro.
O dia de hoje me lembrou um tempo em que morei sozinha na praia dos Açores, no verão. Foram dois verões consecutivos em que senti o gostinho de morar sozinha por um mês. Todas as manhãs eu ia à praia antes do trabalho. Ficar ali por mais ou menos três horas, curtindo o sol suave da manhã, me dava uma tranqüilidade tão grande que compensava trocar o Centro pela praia e encarar uma hora de trânsito todos os dias. Com as baterias recarregadas eu tinha tranquilidade suficiente para encarar o trânsito e a distância numa boa.
Praia me dá paz. E ir à praia na minha própria companhia é algo que inexplicavelmente me eleva o espírito. Solidão para mim nunca foi sinônimo de tristeza, muito pelo contrário, as vezes até me divirto na minha própria companhia, a ponto de ter que segurar o riso para ninguém achar que sou louca. Fico discutindo comigo em pensamento, decifrando meus sentimentos, esclarecendo situações. Sou capaz de voltar de uma caminhada na praia com todos os meus problemas resolvidos ou, se não, com serenidade suficiente para eliminar as preocupações que eles me trazem.
Tive um dia de rainha em Clifton Beach. A falta dos meus colegas brasileiros mais presentes até então não me entristeceu. Eles deixaram um vazio que agora está cheio de mim e que me dá a certeza de estar forte o suficiente para ficar por aqui mais um tempo. É uma sensação parecida com aquela que a gente tem lá pelos 13 anos, quando vira pra mãe e diz: “mãe, fiquei mocinha”. É uma irreversível sensação de maturidade, como se o futuro olhasse para a gente, impetuoso, esperando a confirmação: “sim, estou pronta”.
Nunca me senti tão gente grande como agora e isso não me assusta. Estou diante de um momento da vida que nem eu sei qual é. Ele não tem nome. É o momento em que a gente se sente dona da gente. Sei que o meu é agora e que estou preparada, porque há tempos esperava por ele.
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