O Jeff apontou para uma das montanhas, ao final da estrada de terra, e disse que lá seria o nosso acampamento. Não havia camping, não tinha estrutura, mas era um lugar onde qualquer um teria vontade de estender o seu colchão. As montanhas eram como ilhas, isoladas na planície, e de longe pareciam aqueles castelos que a gente faz deixando os pingos de areia molhada escorrerem entre os dedos. À medida que nos aproximávamos, as rochas se contorciam em novos formatos, parecendo nuvens modelando figuras engraçadas. Além da excentricidade da geografia, que eu não conseguiria descrever com a merecida precisão, a energia do lugar era demais! Talvez por conta dos dez milhões de anos entre aquele dia e o vulcão gigante que dizem ter entrado em colapso e criado as Erongo Montains. Inacreditável. Tive vontade de sair correndo pelos campos, de brincar. Adorei saber que dormiríamos ali, com as rochas garantindo a segurança noturna, muito embora não houvesse a menor ameaça. Minha animação era tanta que a ausência de banheiro não conseguiu abafar. Fui direto montar a barraca. Àquela altura eu estava craque, montei sozinha em cinco minutos! E antes de dar uma volta para explorar outras maravilhas escondidas na paisagem, resolvi estacionar meu colchão na sombra e respirar um pouco de Spitzkoppe. Eu queria que meu pai visse aquilo, ele ficaria maravilhado. Céu azul, canto dos pássaros, o sol me esquentando como um abraço, eu no meio da selva africana, sem preocupação e sem perigo. Ou, como diria aquela música da Baby Consuelo, 'sem pecado e sem juízo'. À noite o Jeff assou peixe com batatas na fogueira, como se fosse um truque. Não parecia ser possível aquele peixe surgir ali, tão gostoso e bem temperado, nem combinava com o cenário, mas surgiu, bem na hora da fome. Depois do jantar, os interessados (que contribuíssem $$$), poderiam assistir a uma apresentação nativa. Tudo ali, a céu aberto, nós sentados em círculo nas cadeirinhas de camping. Na primeira parte, em que nos serviram cerveja artesanal (quente) e nos puxaram para dançar em roda, eu me perguntei, 'o que eu estou fazendo aqui?'. Mas na hora em que começaram a cantar 'The Lion sleep tonight' http://www.youtube.com/watch?v=AY2HPvoqSTE, parei de espraguejar em pensamento e me entreguei à experiência. Eu e todo o resto. Não teria trilha sonora mais perfeita. A voz da cantora, o céu estrelado, o astral daquele lugar e talvez o efeito da cerveja nos hipnotizaram. Naquela noite, quem quisesse poderia dormir ao relento. Eu, bom, vou confessar, não cogitei a hipótese porque tenho medo do jackal... O trio de holandesas resolveu ir além e dormiu dentro da caverna. Uma delas acordou sentindo um bafo quente na cara. Era um jackal lambendo seu rosto. Conta ela que simplesmente empurrou-o para o lado, deu as costas e voltou a dormir. 'Stupid jackal', pensou. Gente destemida é outra coisa.
Quem sou eu
- Ambelle B. Schmidt
- Nasci em Floripa, vivo em Miami e sou apaixonada pela África. Adoro viajar e explorar novas culturas. Tenho especial interesse pelas diferenças. Este é o meu caderno de 'viagens' aberto ao publico. Seja bem-vindo (a)!
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2 comentários:
Hey, Ambelle! Não pare de viajar e postar, muito legal seus relatos de viagem!
Sensacional essa trip pela Namíbia! Valeu pelas dicas, deve ser uma sensação maravilhosa fazer tudo isso: acampar nas montanhas, skydiving, sandboarding...
Beijos.
Obrigada Alex! Realmente foi uma experiência muito rica, que carrego para a vida. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas quero planejar outra viagem de aventura! Bjosss
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