Quem sou eu

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Nasci em Floripa, vivo em Miami e sou apaixonada pela África. Adoro viajar e explorar novas culturas. Tenho especial interesse pelas diferenças. Este é o meu caderno de 'viagens' aberto ao publico. Seja bem-vindo (a)!

27.6.11

DAY 5: SOSSUSVLEI DUNES – NAUKLUFT NATIONAL PARK – NAMIBIA

Chegamos ao Solitaire campsite, onde passamos o dia descansando. Na madrugada seguinte acordaríamos às 4h para ver o sol nascer da Duna 45. O camping tinha espaço à vontade para escolhermos onde queríamos as nossas “casas”. A minha e da Carina tentamos montar mais perto do banheiro, já que eu tinha a infeliz mania de fazer xixi no meio da noite. Eu ficava me enrolando até ouvir alguma movimentação. Quando sentia que alguém estava levantando, botava a cabeça para fora da tenda e aproveitava a “carona”. Deus me livre topar com um jackal sozinha no meio da noite. E sempre aparecia um. Cada um curtiu o dia do seu jeito. Eu circulei pelo camping todo, a loja, o bar, a recepção, até me acomodar numa mesinha de concreto, abrir o caderno e começar a escrever. Por instantes eu não acreditava estar na África, tão longe de casa, vivendo uma rotina incrivelmente diferente, como se as coisas ruins do mundo não existissem ou pelo menos, não existissem para mim. Incrível e inacreditável. O clima desértico é extremamente seco, deixando a pele esbranquiçada e o cabelo duro. Eu evitava me olhar no espelho para nã ficar de mau humor. Às 19h30min, supper time, o jantar estava servido, junto com a minha vegetarian meal. Quando sentamos ao redor da fogueira, alguém teve a ideia de cantar o hino nacional do seu país (?), o que foi puxando uma sucessão de hinos e cada um cantou o seu na sua língua. Depois veio a sessão de piadas e nessa hora eu não pude contribuir nem como ouvinte, já que não entendia muita coisa. Então mergulhei mais cedo no meu sleepbag, de cabeça e tudo, economizando energia para o dia seguinte. Recolhemos as barracas enquanto ainda era escuro. Guardamos tudo no buddy e fomos para a Duna. Chegando lá, desembarcamos em frente a uma imensidão de areia cor de ouro e quem ainda não tinha despertado, despertou de vez, vendo aquele mar de areia. Fomos subindo em fila aquela que é considerada a duna mais estratégica, onde é possível estar de frente para o espetáculo, como se a duna fosse o sofá e o sol fosse a TV. Sentamos lado a lado na areia gelada, posicionando nossas câmeras com a precisão de quem ajusta a pontaria. O vento forte trazia frio e areia para os nossos rostos. Eis que na hora certa, ele surgiu. Simplesmente enorme como eu nunca tinha visto, bem vermelho, à nossa frente, alterando a todo instante o colorido da paisagem. Era como se naquela manhã o sol nascesse só para nós, como um ator exibindo sua performance, cuja beleza jamais pudesse se repetir. Difícil acreditar que é asim tão mágico todos os dias, até nos dias em que não percebemos que ele está lá. Instantes assim parecem um encontro com Deus. É daqueles momentos da vida em que eu respiro fundo, fecho os olhos e mando mentalmente um 'obrigada, Senhor!'. Depois do espetáculo divino, café da manhã aos pés da Duna. Já estava na hora! Next stop: Swakopmund.

Adorei o astral do camping

Adivinha, indo garantir o banho

O amanhecer que se tornou incomparável na minha vida

Sossusvlei Dunes, Namibian Desert

O sol chegando para finalmente aquecer o deserto

Não passei vontade, desci rolando

O contraste de cores faz unânime a paisagem

Cenas que só presenciando para acreditar

Breakfest no deserto

20.6.11

DAY 4 - NAUKLUFT NATIONAL PARK - NAMIBIA

O Sesriem Campsite, onde ficamos em Sossusvlei, tinha uma lojinha de conveniências, uma pequena piscina (só as crianças tiveram coragem, estava bem geladinha) e uma café, onde comi uma torta integral de banana. O banheiro também era bom e tomei um banho decente. Tinha muita gente hospedada, uns em barracas, outros em motohomes e todos com jipes bem equipados. Estávamos a um dia das dunas e uns cinco dias do safari. Ficamos pouco tempo nessa parada, porque o caminho nos reservava grandes descobertas. Nossa rotina era acordar no máximo às 6h da manhã, tomar café, desarmar a barraca e seguir viagem. Eram dias muito gostosos, que me remetiam àquele clima dos passeios da escola. Lugares lindos, pessoas interessantes e o mundo real cada vez mais distante. Passávamos o dia no ônibus, com algumas paradas no caminho e ao final do dia sempre estávamos onde deveríamos estar, tudo bem planejado. À minha frente sentavam a Elza e a Lili, duas neozelandesas que viajavam juntas. A Elza, sempre falante, não dormia nunca. A Lili com seus óculos enormes, batom vermelho e um coque sempre em cima da cabeça. Ela secava a calcinha reserva na janela do ônibus, com o braço para o lado de fora. As minhas eram todas descartáveis. Aliás, essa foi uma dica muito boa que a Angélica me deu, calcinhas e meias baratinhas para usar e jogar fora. Uma incomodação a menos, até porque não tinha onde secar. Ao meu lado a Carina, minha tentmate, que passou os primeiros dias da viagem só dormindo por conta de uma gripe. Inglesa de Liverpool, tirou seis meses para viajar pelo mundo e há pouco tempo tinha estado no Brasil, onde conheceu o Rio, a Bahia e Floripa. O inglês dela era para mim inteligível. Volta e meia eu estava na tenda, arrumando as minhas coisas, e ouvia uns resmungos. Quando erguia a cabeça, ela estava me olhando, esperando uma resposta. Ela tinha falado comigo e eu não tinha percebido. O meu inglês não era o mesmo que o dela, o que me deixava meio desanimada. Eu conversava mais com os outros do que com a minha colega de tenda, mas eu adorava a Carina. Next poin: Dune 45, Namibian Desert.







19.6.11

DAY 3 – FISHER RIVER CANYON – NAMIBIA

As viagens com a Nomad são todas diurnas, porque tão interessante quanto chegar aos pontos almejados é o trajeto em si. Aliás, é no caminho que se escondem as melhores surpresas. O Fisher River Canyon é o mais antigo do mundo, com 2.600 milhões de anos. A geografia é um espetáculo natural, que nos faz acreditar em deus, numa uma força maior que esculpiu cuidadosamente tudo aquilo, tamanha a perfeição de cada curva do vale. Antes disso, atravessamos o Moon Valley, que dispensa explicações, porque o próprio nome já diz com o que se parece e parece muito! Enquanto o buddy sacolejava devagar pela estrada, nós nos amontoávamos próximo à janela, esperando a hora que o Jeff nos liberaria para explorar o mundo lá fora. Antes de chegarmos ao camping, paramos à beira do vale, onde havia uma cabana e um mirante. O sol ia se pondo e colorindo o horizonte de vermelho. Só aquele espetáculo  já tinha feito a viagem valer à pena. Enquanto esperávamos a janta, tivemos todo o tempo para ajustar as nossas máquinas fotográficas ao melhor ângulo, tentando congelar aquela cena para nunca mais esquecer. E comemos ali, ao ar livre, enquanto a noite caía. Ao nosso redor, nada além da paisagem plana das savanas. Acima de nós, nada além das estrelas. Nenhum som, vento ou perigo. Sentia-me protegida e cuidada pela natureza. Aquela noite foi a mais fria da viagem. No clima desértico da Namíbia os dias são muito quentes e as noites, muito frias. Pedi para o Jeff uma chaleira de água quente e tomei um banho de caneca, roxa, batendo o queixo, mas tomei um banho! Antes que mais alguém pudesse reivindicar o mesmo direito, o Jeff cortou o barato para que não ficássemos sem água no reservatório. O meu banho estava garantido, graças a Deus. Era a lei da sobrevivência! Chegando ao acampamento, montamos as barracas e sentamos ao redor da fogueira. O frio era de doer. Cheia de roupa, cachecol e enrolada no cobertor, eu só conseguia esquentar a parte da frente do corpo, a que estava virada para o fogo, as costas gelavam. Àquela altura nos conhecíamos um pouco melhor e a conversa fluía bem. O sono foi batendo, mas eu adiei o quanto pude a ida para a barraca para não me afastar do calor. Chamávamos o fogo de bush TV, já que sempre alguém era pego com o olhar vidrado, como se estivesse vendo alguma coisa que ninguém mais via. Descobri que o fogo tem esse poder.  Nessa hora, sentindo o corpo dormente de frio, a Elza, neozelandesa, perguntou, 'anybody else missing fingers?'. E o Ben, inglês, que não tinha um braço, respondeu 'me', sorrindo para nós. A naturalidade do Ben me fez ter uma crise de riso. Nessa hora decidi me recolher ao meu sleepbag, já que simplesmente não consegui mais parar de rir. Próximo ponto: Naukluft National Park, quase no deserto da Namíbia. 






DAY 2 - NAMAQUALAND - GARIEP RIVER

Em Namaqualand paramos num camping à beira do Gariep ou Orange River (o nome depende da margem do rio que estamos). Tinha bar, chuveiro quente e canoa para quem quisesse se aventurar. À noite ficamos conversando ao redor da fogueira, esperando a janta ser preparada pelo chef Jeff com a ajuda do motorista, Shadwell.  Os pratos e copos eram todos de plástico e cada um lavava a sua louça. Mergulhava na bacia com sabão e mergulhava na bacia com água. Em poucos minutos a cozinha estava arrumada. É a união fazendo a força! Na manhã do dia seguinte ficamos lagarteando ao sol, porque o dia estava incrivelmente propício. Antes disso, é claro, tomei um banho. Vinte e quatro horas sem banho é o meu limite. Posso ficar sem comida, mas não fico sem banho. Pensando melhor, não posso ficar sem comida e nem sem banho! Enquanto alguns jogavam vôlei, outros andavam de canoa, eu gastei metade da minha manhã tomando banho. Na verdade, não costumo demorar tanto tempo no chuveiro, mas tenho todo um fluxograma de cremes a ser seguido que completam o ritual. As cabines eram viradas para o camping e tinham a parte de cima abertas, de modo que a pessoa podia apreciar a paisagem enquanto se lavava. Não era o meu caso, porque eu não alcançava... Mas senti a mesma alegria que um bebê sente quando brinca no banho e a mesma tristeza que ele sente ao sair, como se o chuveiro não fosse voltar nunca mais... Saindo dali cruzaríamos a fronteira da África do Sul com a Namíbia. Próxima parada, Fisher River Canyon.




18.6.11

DAY 1 – CEDERBERG MONTAIN REGION – SOUTH AFRICA

A primeira parada foi logo na saída de Cape Town. Fizemos um pit stop na Table View, um ponto estratégico de onde se vê a Table Montain com a Lion’s Head ao lado. Vista linda, mas vento cortante, não consegui parar muito tempo fora do ônibus. A segunda parada foi no shopping, a oportunidade de fazermos um pequeno estoque de água, comida e cobertores, já que a previsão do tempo indicava que as noites seriam frias. Eu tinha levado um cobertor pequeno e resolvi comprar mais um. Foi Deus que me deu o toque! Passamos o dia viajando e chegamos ao camping perto de anoitecer, um pouco cansados, muito esfomeados e cheios de expectativa. À noite sentamos ao redor da lareira do albergue e fomos, aos poucos, nos apresentando. Fui pegar uma cerveja e acabei me entretendo com as notas de dinheiro de diversos países que o dono do bar colecionava. Na hora de montar a barraca, fazia frio e começava a chover. Foi aí que me bateu o desespero. Quando me vi empacotada num saco de dormir (eu era estreante nesse assunto), sem conseguir me esquentar e atormentada pela água que aos poucos entrava na barraca, tive vontade de chorar, mas tentei não me preocupar com nada daquilo e descansar. Quando o dia amanheceu, já estava mais calma. E molhada. A lama tinha tomado conta do acampamento e a chuva tinha umedecido todas as minhas coisas. Em poucos minutos me juntei ao grupo para subir a montanha e deixei para trás as lembranças da noite. Foi o primeiro e último dia de chuva. Na subida da montanha conhecemos uma figura rara. Um bushman, um homem da natureza. Quando o vi falando e gesticulando tive um dejavu. Fiquei uns minutos atordoada com aquela cena já conhecida, até que lembrei  de um Globo Repórter que vira dias antes de embarcar para a África. Era ele mesmo! Uma subcelebridade da floresta. Uma pessoa de personalidade raríssima. Interessado, simpático, profundo conhecedor e respeitador da natureza, que nos explicou a função medicinal das plantas, que a sua família foi descobrindo e testando ao longo dos anos. Conhecimentos extremamente valiosos, mas que para nós e o nosso estilo de vida, eram apenas curiosidades. Na manhã do segundo dia partimos para Namaqualand.

Table View


Start raining



Bush celebrity

Ten trilion dollars


Cape to Windhoek - 13 days adventure

A inspiração voltou comprovando que 'há males que vêm para bem'.  Foi eu ficar uma semana de cama por conta de uma gripe forte, que as ideias estouraram como pipoca na minha cabeça. Aí eu lembrei o quanto amo escrever.
 
Estava devendo um post sobre a viagem para a Namíbia. Desde que botei os pés na África eu quis conhecer o lado selvagem daquele continente rico e não poderia voltar para casa sem ter feito pelo menos um safari daqueles bons e altamente recomendados.
Deixei a viagem para o final como uma espécie de despedida. A intenção inicial era conhecer três países, Namíbia, Botsuana e Zimbabue, mas ao final de 6 meses, além das minhas economias não permitirem, o pessoal da imigração não foi tão legal comigo.
Essa viagem tinha uma segunda intenção. Como o meu visto de permanência na África do Sul estava prestes a expirar, deixar o país e voltar talvez fosse a possibilidade de conseguir um novo visto. Talvez. Não foi o que aconteceu comigo.
Procurei a Nomad (http://nomadtours.co.za/index.html), onde trabalha a minha amiga Fernanda. É uma empresa de turismo que promove viagens pela África de um jeito bem roots.  Tanto é possível atravessar o continente, comprando o trecho completo (Cape to Nairobi) como comprar os trechos separados, escolhendo os países e atrações que mais lhe agradam.
Escolhi Cape To Windhoek, uma trip de 13 dias que atravessa a África do Sul e chega à capital da Namíbia, de onde eu voltaria para Cape Town de avião.
Foram 13 dias I-NES-QUE-CÍ-VEIS! Dei a sorte de pegar uma tendmate tranquila, um grupo de pessoas jovens e animadas e um guia muito gente boa, o Jeff, que toda vez que entrava no ônibus repetia, 'hi ladys and gents, is everythin hundred per cent?' Até comida vegetariana só para mim ele fazia. 
Buddy, the truck

O ônibus é adaptado para aventuras, como terrenos difíceis, frio e calor intensos, possível ataque de animais durante os safáris, enfim, de fora parecia um tanque do exército. De dentro também, não fosse a quantidade de mochilas e máquinas fotográficas que delatavam a nossa condição de turistas deslumbrados.


O meu grupo era o camping tours. Todos que estavam comigo haviam preferido as barracas às acomodações. Por ser mais aventureiro, mais barato e por que não, mais divertido. Ninguém além de mim falava português.

15.6.11

Cape Town 21: Eu e a Gabi

Table Montain
 Waterfront
A vista da Cape Wheel (roda gigante)

Dia quente em Clifton 4

Desembarquei em Cape Town. Liguei para o Stuart, taxista conhecido, e depois de meia hora batendo queixo na rua, pois o frio resolveu desembarcar junto comigo, encontrei-o na pick up area. Embarquei na Mercedes dele, que deve ter a idade do meu avô e fui tomando um café de pelar o beiço até, finalmente, o Check Inn Hotel. Que alegria estar de volta! Quero tudo, nachos do Buena Vista, cinema no Waterfront, frutos do mar do Ocean Basket, sábado de sol em Hout Bay, pizza do Posticino, caminhadas em Sea Point...

Mas já estava anoitecendo e o frio me paralisou. O quarto do hotel estava tão gelado e vazio que se eu gritasse faria eco. Então fiquei quietinha. Tomei um banho quente, avisei a Fe da minha chegada e fui para a cama esperar o outro dia.

O outro dia chegou trazendo a Gabi, cheia de novidades e compras da China. Três malas que a deixavam quase maluca toda vez que queria encontrar uma roupa.
Nossa primeira tarefa foi listar o que não poderíamos deixar de fazer. E simplesmente tudo o que tínhamos vontade constava na lista. Dia após dia fomos cuidadosamente riscando os itens até não sobrar nenhum.

Nossa rotina era acordar, comprar salada de frutas no Woolworths e sair para explorar a cidade, conferir o que estava igual e o que estava diferente. Caminhar, conversar, tirar fotos e comer como se não houvesse amanhã.

Muito bom matar a saudade de comidas que a gente adora. É como voltar a um momento feliz e lembrar o gosto que ele tem. E nós estávamos com fome. Fome de férias, de curtir um lugar que a gente adora, de lembrar o que viveu e viver tudo de novo, de um jeito diferente, mas com uma sensação já conhecida.

Restaurantes, baladas, caminhadas, pontos turísticos, filmes e momentos de silêncio, de só contemplar a vida, o sol, o frio, o café do Giovanni’s...

Num dos dias a Gabi foi cumprir sozinha um item da lista, pular do bungy jump. Eu, que já havia me arriscado na façanha em outros tempos, decidi não ir e ter um dia para explorar CT do meu jeito. Demos 'um tempo na nossa relação' e cada uma foi viver o dia de si mesma.

Às vezes parecia o dia do silêncio, pois praticamente não conversei com ninguém. Outras vezes ficava tão mergulhada nos meus pensamentos, que sequer percebia o mundo lá fora. Comi a salada de frutas matinal num banco da beachfront, comprei as bobagens que eu adoro e só tem lá, almocei um vegie burger no Steers, fui ao cinema, olhei todas as vitrines que tive vontade, tomei um hot chocolate no Waterfront com um cobertor nas pernas, atualizei o diário. Ao no final do dia me peguei concluindo, mais uma vez, que eu sou muito feliz em CT.

Voltei consciente de que a viagem foi um grato intervalo bem no meio dos objetivos aos quais eu estava focada e para os quais eu deveria voltar. Mas a vontade de um dia ir para ficar não sai do meu coração. Ou será que, mais uma vez, arranjei uma desculpa?

Cape Town 20: Maputo experiense

Taxis de Maputo
Catedral vista da sacada do hotel
Vista do corredor do hotel

Em maio de 2011 estive pela terceira vez em Cape Town, a minha Disneylândia sênior, o lugar onde a mágica acontece!


A grana já estava na conta, o planejamento já estava feito. A data poderia se qualquer uma, talvez estivesse faltando só a companhia. Aí veio a Gabi e fez o convite. Então não faltava mais nada. Pensei em todas as desculpas possíveis, do tipo, logo agora que o curso começou, logo agora que estava olhando apartamento, logo agora que estava curando as feridas do meu coração. Mas nenhuma delas me deteve. Cape Town é Cape Town!

Como a Gabi iria direto da China e chegaria dois dias depois de mim, resolvi incluir no roteiro outro país da África - parte da minha meta de um dia conhecer todos os países daquele continente. Passaria dois dias em Maputo, a capital do Moçambique, sozinha antes de nos encontrarmos em CT. Mas não foi bem assim.


No caminho do aeroporto para o hotel achei a cidade estranha. Não gostei do que vi e comecei a me sentir sozinha. Quando o taxista me largou na porta do hotel, senti muita falta de ter alguém comigo. Alguém que me ajudasse, que me defendesse, que dissesse: calma, vamos dar um jeito.


O hotel era completamente diferente da ideia que o site me trouxe. Cheirava mal, era velho e sujo. Além da quantidade de gente que entrava e saía, muitos paravam sentados na calçada em frente à porta. E eu completamente sozinha, decepcionada, tendo que dar um jeito. Coisa de viajante.


Nem pensei muito, olhei para cima, vi um prédio melhor escrito 'hotel', entrei no primeiro taxi que apareceu e pedi: 'moço, está vendo aquele prédio? Pode me deixar lá, por favor'. 

O dito era o Pestana Ruvema ou Rovuma, sei lá. E custava US $ 250,00 a diária, um assalto para aquela porcaria de hotel. No primeiro contato me pareceu um oásis no deserto, mas só até segunda ordem, digamos assim.


Chinelo no pé e saí a desbravar Maputo. Onde estavam os pontos turísticos, o Mercado Municipal, os restaurantes legais para visitantes? Nada. Nada me atraía. Dei voltas e voltas e acabei no mesmo lugar, a esquina do hotel. O dia era ensolarado, o vento fresco, eu estava onde queria estar, mas não deixei de ser uma viajante solitária sentindo-me assaltada por uma tarifa de hotel.


Saí, jantei, escrevi no meu diário, chorei deitada na cama, liguei para a minha terapeuta e finalmente tentei em 'off' como a bela adormecida, um sono revigorante e profundo.


Acordei decidida a não ficar nem mais um minuto naquele lugar, principalmente quando vi que a roupa de cama estava com uma mancha de sangue que não era meu. Isso mesmo, dois mil e quinhentos meticais a diária e o serviço de quarto não tinha trocado a roupa de cama. Era o que que faltava para eu sair correndo.


Fechei a mala, entrei no taxi e corri para o aeroporto. Ah é, antes disso chequei os horários de voo na internet. Não tinha garantias de que conseguiria embarcar, mas precisava estar lá para tentar. E deu tudo certo. Dentro de 6 horas eu estava desembarcando naquele país que foi o centro do apartheid, que foi sede da Copa de 2010, que teve um dos líderes políticos mais admirados do mundo, mas que para mim é só um lugarzinho bom para viver e sorrir. Ai, ai!

Cape Town 19: My place





A pergunta é: você tem o seu refúgio no mundo? Você já escolheu o seu divã particular, aquele lugar para onde você vai quando quer encontrar consigo mesmo? Tipo uma montanha com uma vista legal, um trapiche numa prainha bucólica, o banco tal da praça tal, uma igreja que você simpatize, aquela cidade que viria à sua cabeça se você pudesse se teletransportar. Vale todos os lugares onde você possa estar sozinho sempre que quiser espairecer, levar alguém especial, comemorar as suas vitórias com exclusividade ou simplesmente ficar olhando para o nada, até a dor passar.


Eu encontrei o meu abrigo no mundo e ele fica muito longe de casa. Há três voos e um continente de distância. Mas eu tenho certeza de que é o meu lugar, porque é daquela energia que eu preciso quando quero coisas novas, quando quero atrair mudanças e implementar melhoramentos interiores. É lá que eu recobro o fôlego.


Fui apenas três vezes, mas em todas elas a sensação é a mesma, a de voltar para a barriga da minha mãe. Lá eu supro meu desejo de colo, sinto-me importante e amada e assim acho que posso contornar todos os problemas. Sabe aquela sensação que a gente tem quando é pequeno e veste uma fantasia? Mais ou menos por aí. A gente se sente diferente e todo mundo olha como se a gente fosse maluco. Tô nem aí!
É a 'terapia do esconderijo no mundo', a qual eu aderi e recomendo.