Dias atrás a mãe da amiga do meu primo perguntou a ela se eu já tinha terminado a faculdade, imaginando que eu tivesse uns vinte poucos anos, quinze a menos do que insiste em sentenciar o meu RG. Já terminei duas e uma pós e teria tido tempo de concluir outras duas, mais mestrado e doutorado, para se ter uma ideia.
Quando a amiga do meu primo, então, revelou a minha idade teórica, ela ficou incrédula. Eu também. Esse tal deslocamento no eixo da Terra que acelerou a frequência do Planeta não me deixou lapso suficiente para processar essas quase quatro décadas de vivência. Nem eu acredito que existo há tanto tempo. Apenas caio na real quando a memória já não guarda todas as minhas peripécias mundanas, quando tiro dúvidas sobre informática como meninos de quinze anos, ou quando mando uma gíria e a galera mais nova se entreolha segurando o riso. No mais, sinto-me uma adolescente.
A idade verdadeira é a da alma, e embora o corpo seja a representação do espírito, a “carcaça” oxida muito mais rápido que a essência, e ambos não concentem quanto à contagem do prazo. Porém, manter a cabeça jovem, acreditar na plenitude e sentir-se um eterno principiante é o meu truque para frear o tempo, essa abstração que um dia resolveram fracionar. É um artifício do qual faço uso e, ao que tudo indica, tem funcionado.
Você aparenta ter a idade que sente, portanto, cuide do corpo como manda a certidão de nascimento, mas sinta-se livre para exercer a idade que a sua alma deseja, sem forçar a barra. Seja este um pacto entre a sua escolha consciente e o seu comportamento, ambos alinhados com a sua verdade, a de ninguém mais. Até porque, ninguém precisa ser ou parecer jovem, e nem deve, precisamos mesmo é aproveitar melhor o tempo.