











Almoçamos no backpacker e às 14h o instrutor veio nos buscar para o skydiving. Comecei a sentir um ligeiro frio na barriga, mas não era nada parecido com medo, era ansiedade e vontade de enfrentar o desafio, por incrível que pareça! Segui o conselho do Vini, que me dizia: 'don’t think about, just do it'. O segredo é não ficar imaginando como será, é simplesmente não pensar, só ir. O local era descontraído, tinha cara de albergue. Lá recebemos as instruções e tomamos uma dose de tequila. Quando a van veio nos buscar para levar ao local da decolagem, estávamos eufóricos. O problema é que a espera foi me angustiando. Esperei praticamente a tarde toda pela minha vez. Fui a última a ser chamada e o sol já estava se pondo. Só depois eu entendi que na verdade isso foi um prêmio. Entramos, eu e a Yun (da Coreia do Sul), no aviãozinho, cada uma com seus instrutores e camera men próprios, que pulariam conosco para filmar nossos saltos. Além de nós, o piloto e não havia lugar para mais ninguém. Todos sentados no chão, encaixados como peças de lego para poder caber no aviãozinho. Então, finalmente, decolamos. Antes do salto ficamos cerca de 20 minutos ganhando altitude e fizemos um voo panorâmico da área. Quando um dos instrutores conferiu as condições numa espécie de relógio de pulso e fez um sinal, eu entendi que era a hora. Primeiro pulou a Yun e alguns segundos depois, pulei eu. A portinha do minúsculo avião se abriu, o camera man se posicionou e eu coloquei as pernas para o lado de fora. Dei um tchauzinho para a câmera e senti o impulso do instrutor, preso às minhas costas, me empurrar. Atirei-me em queda livre a 10 mil pés do chão. Os primeiros quatro segundos foram de medo, mas eles duraram tempo suficiente apenas para me lembrar que eu estava viva! É aquele frio na barriga que só quem se arrisca sente. E só quem sente sabe o quanto vale à pena! São sentimentos que a vida normal não nos possibilita. Nos próximos segundos, uma intensa sensação de liberdade interrompeu qualquer medo. Um vento muito forte na cara, o mundo lá embaixo e eu pensando: isso é que é viver! Quando o kite se abre, a gente sente um tranco puxando para trás e paira no ar, como fazem os pássaros quando parece que o vento os empurra. Nesse instante ouvi o silêncio muito alto e senti uma brisa quente bater no meu rosto. Uma deliciosa sensação de voar. É a palavra liberdade em sua plenitude. É sentir-se um anjo, vendo tudo lá do céu, ou um superherói. De um lado o deserto, de outro lado o mar e acima de tudo isso, eu, me sentindo literalmente 'por cima'. O entardecer me rendeu lindas fotos. A luminosidade do dia estava perfeitamente regulada para o meu momento. Começamos a perder altitude e eu pude manobrar o kite, fazendo ziguezague. Quando o instrutor retomou o comando, fez uns spinnings que me deixaram meio tonta. Àquela altura o mundo lá embaixo, que parecia uma maquete, foi ficando mais nítido. Quanto mais descia, mais eu reconhecia as casas, os carros, e finalmente o campo onde pousaríamos. Poucos minutos antes de tocar o chão eu gargalhava! Quando pude ouvir a voz do Vito dizer, lá de baixo, 'come on Bella', senti que estava acabando... Quando os meus pés tocaram o chão, além de feliz, eu estava orgulhosa de mim. Meu coração sorria, minha alma era só felicidade! Foi praticamente uma experiência religiosa, que revelou a minha coragem, o meu potencial, a minha crença e todas as sensações que a vida pode me dar se eu estiver disposta a arriscar, sem medo de ser feliz.