Quem sou eu
- Ambelle B. Schmidt
- Nasci em Floripa, vivo em Miami e sou apaixonada pela África. Adoro viajar e explorar novas culturas. Tenho especial interesse pelas diferenças. Este é o meu caderno de 'viagens' aberto ao publico. Seja bem-vindo (a)!
12.9.07
Diário de bordo: Fortaleza (a terra do sol)
Cheguei à Fortaleza cheia de expectativas, afinal, o nordeste é a terra do sol e eu já estava cansada de bater o queixo no inverno aqui do sul. Mas minha primeira constatação, logo que cheguei à cidade, foi um tanto infeliz: a quarta mais populosa capital do país parece ter sido abandonada pela atual administração pública.
Para se ter uma idéia, os cruzamentos das principais ruas à beira mar, por onde circulam turistas e famílias fortalezenses, hoje são pontos de prostituição, que ali se estabelecem imunes a qualquer rigor. As pichações cobrem os prédios e nada escapa à audácia das gangues, que decoram livremente a cidade de preto. A miséria toma conta do subúrbio, onde é possível ver um contingente de desempregados - faltam oportunidades e sobra conformismo.
O excesso de dejetos plásticos nas praias demonstra despreocupação com a questão ambiental. E nem tem como ser diferente (apesar da beleza natural ser justamente o atrativo turístico). Numa região onde não se investe em educação, onde as políticas sociais são falhas e a administração pública é incoerente, não é possível exigir que a população preserve o patrimônio coletivo. Pois onde não há educação, não há consciência. Faltam políticas sociais sérias e comprometidas, faltam campanhas efetivas de conscientização. Falta vontade.
O respeito e a cordialidade no trânsito estão praticamente extintos. Nos quatro dias que circulei de carro, não vi ninguém ceder passagem, pelo contrário. Muitas regras, inclusive de boa educação, são ignoradas e todos parecem habituados ao desrespeito. O cearense não se apoquenta com nada, embora tenha motivos para isso.
A quantidade de construções estagnadas dá a impressão de que, de uns tempos para cá, a situação econômica da população decaiu. São inúmeras edificações pela metade, habitadas pelo matagal, dando a impressão, mais uma vez, que a cidade foi esquecida tanto pelos governantes quanto pelos próprios cidadãos.
Do lado bom fazem parte os preços, excelentes para uma capital. O custo de vida é razoável e come-se bem com pouco dinheiro. E, claro, as belezas naturais são um capítulo à parte. Algumas praias misturam dunas, mar e lagoas – por isso são procuradas por turistas do mundo todo para a prática de kite surf. O mar é verde e morno. O artesanato torna indispensável uma visita ao mercado municipal para a compra de rendas e utensílios de palha. O clima também é excelente.
Evidente que a minha visão é de alguém que nasceu e viveu em Florianópolis. E o sul do Brasil, em termos de qualidade de vida, não pode ser comparado ao nordeste, infelizmente.
Este registro objetiva contestar as políticas públicas cearenses e o comodismo da população diante da tragédia cotidiana. Deixei Fortaleza com a certeza de que para poder ostentar com orgulho o título de "a terra do sol" não basta apenas que o astro-rei continue brilhando lá no alto.
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